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quinta-feira, 14 de agosto de 2008
O Remador...
"Lê-se numa crónica, que no ano de 1994 se celebrou uma competição de remo entre duas equipas, compostas por trabalhadores de uma empresa portuguesa e de uma empresa japonesa.
Dada a partida, os remadores japoneses começaram a destacar-se desde o primeiro instante. Chegaram à meta primeiro e a equipa portuguesa chegou com uma hora de atraso.
De regresso a casa, a Direcção reuniu-se para analisar as causas de tão desastrosa actuação e chegaram à seguinte conclusão: Detectou-se que na equipa japonesa havia um chefe de equipa e dez remadores, enquanto na equipa portuguesa havia um remador e dez chefes de serviço, facto que seria alterado no ano seguinte.
No ano de 95 e após ser dada a partida, a equipa japonesa começou a ganhar vantagem desde a primeira remadela. Desta vez, a equipa portuguesa chegou com duas horas de atraso. A Direcção voltou a reunir após forte reprimenda da Administração e viram que na equipa japonesa havia um chefe de equipa e dez remadores, enquanto que a portuguesa, após as medidas adoptadas com o fracasso do ano anterior, era composta por um chefe de serviço, dois assessores da administração, sete chefes de secção e um remador.
Após minuciosa análise, chega-se à seguinte conclusão:
O REMADOR É INCOMPETENTE.
No ano de 96, a equipa japonesa voltou a adiantar-se, mal foi dada a partida.
A embarcação portuguesa, que este ano tinha sido encomendada ao Departamento de Novas Tecnologias, chegou com quatro horas de atraso.
Após a regata, e para análise dos resultados, convocou-se uma reunião ao mais alto nível, no último piso do edifício, chegando-se à seguinte conclusão: Este ano a equipa japonesa não inovou, tendo optado novamente por dez remadores e um chefe de equipa.
A equipa portuguesa, após uma auditoria externa e um assessoramento especial do Departamento de Informática, optou por uma formação mais vanguardista, composta por um chefe de serviço, três chefes de secção, dois auditores da Arthur Andersen e quatro Securitas que controlavam a actividade do remador, ao qual se tinha aberto um processo disciplinar e retirado todos os bónus e incentivos, devido ao fracasso dos anos anteriores.
Após prolongadas reuniões decidiu-se que, para a regata de 97, "um novo remador será contratado para o efeito, já que o comportamento do actual indiciava mostras de desinteresse a partir do vigésimo quinto quilómetro e uma indiferença quase total junto à linha da meta."
sábado, 9 de agosto de 2008
*Artigo de Nuno Markl - para a geração dos 30
*A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida.
E está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje rondam os trinta. O grande choque, entre outros nessa conversa, foi quando lhe falei no Tom Sawyer.
'Quem?', perguntou ele.
Quem?! Ele não sabe quem é o Tom Sawyer! Meu Deus... Como é que ele consegue viver com ele mesmo? A própria música: 'Tu que andas sempre descalço, Tom Sawyer, junto ao rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos deixarás, aqui e além...' era para ele como o hino senegalês cantado em mandarim.
Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não conhece outros ícones da juventude de outrora. O D'Artacão, esse herói canídeo, que estava apaixonado por uma caniche; Sebastien et le Soleil, combatendo os terríveis Olmecs; Galáctica, que acalentava os sonhos dos jovens, com as suas naves triangulares; O Automan, com o seu Lamborghini que dava curvas a noventa graus; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick Duffy e as suas membranas no meio dos dedos; A Super Mulher, heroína que nos prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às voltas, lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na Sic Radical, não é a mesma coisa. Naquela altura era actual... E para acabar a lista, a mais clássica de todas as séries, e que marcou mais gente numa só geração:
O Verão Azul. Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer. Quem não chorou com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira. Quem, meu Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer nada.
Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não passaram, o que os torna fracos:
Ele nunca subiu a uma árvore! E pior, nunca caiu de uma. É um mole. Ele não viveu a sua infância a sonhar que um dia ia ser duplo de cinema. Ele não se transformava num super-herói quando brincava com os amigos. Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos que roubávamos nas obras e que depois personalizávamos.
Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra. Ele nunca roubou chocolates no Pingo-Doce. O Bate-pé para ele é marcar o ritmo de uma canção.
Confesso, senti-me velho...
Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador. Tudo bem, por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de perigo real, em que tenham de fugir de algum sítio ou de alguma catástrofe, eles vão ficar à toa, à procura do comando da Playstation e a gritar pela Lara Croft.
Óbvio, nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas, nunca andaram a fazer corridas de bicicleta uns contra os outros. Hoje, se um miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar pontos e fazer exames a possíveis infecções, e depois está dois meses em casa fazer tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter caído. Doenças com nomes tipo 'Moleculum infanticus', que não existiam antigamente.
No meu tempo, se um gajo dava um malho muitas vezes chamado de 'terno' nem via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de terra espalhada por cima não estancasse.
Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas, porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos. Um gajo na altura aprendia a viver com o perigo. Havia uma hipótese real de se entrar na droga, de se engravidar uma miúda com 14 anos, de apanharmos tétano num prego enferrujado, de se ser raptado quando se apanhava boleia para ir para a praia. E sabíamos viver com isso. Não estamos cá? Não somos até a geração que possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade? E ainda nos chamavam geração 'rasca'...
Nós éramos mais a geração 'à rasca', isso sim. Sempre à rasca de dinheiro, sempre à rasca para passar de ano, sempre à rasca para entrar na universidade, sempre à rasca para tirar a carta, para o pai emprestar o carro. Agora não falta nada aos putos.
Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda para se juntar e para servir de presente de anos e Natal, tudo junto. Hoje, ele é Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo.
Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta e ele pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem aquela versão da bicicleta.
Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se conseguiu que 8 em cada dez putos sejam cromos.
Antes, só havia um cromo por turma. Era o totó de óculos, que levava porrada de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha namoradas.
É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de alguma empresa de computadores, mas não curtiu nada.'
(Nota: ...os chocolates n eram gamados no 'Pingo Doce'... Ainda se chamava 'Pão de Açúcar'!!!)
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